segunda-feira, fevereiro 1

Carnaval



            Conta-se que, vários milênios antes da era cristã e após a última era glacial, quando a natureza perdeu seus vários tons brancos e, vagarosamente, iniciou a se pintar de verde e outras cores do arco-íris, os seres humanos começaram o cultivo de cereais, fixando-se em pequenas aldeias. Foi quando os cultos agrários, como forma de agradecer aos deuses pela colheita e também pedir proteção, tiveram início – por volta de 10.000 a.C.
Não se sabe quando começaram as festividades carnavalescas, pois isto está perdido no tempo, mas permaneceu na memória coletiva o motivo para o riso e a diversão.
 Nas margens do Nilo, seus primitivos habitantes saudavam o fim das enchentes e o início da primavera com cânticos e danças, para espantar as forças negativas que poderiam prejudicar o plantio – era a festa da Deusa Ísis e do Boi Ápis. Na Grécia foi oficializado o culto a Dionísio quando a sociedade já estava organizada numa hierarquia rígida e, portanto, necessitando de uma válvula de escape – o culto ao corpo sem culpa. Com o passar do tempo, foram incorporadas às festividades as bebidas, o sexo e as orgias junto com a inversão das classes sociais. As diversas celebrações em louvor a Dionísio chega à cidade de Roma com o nome de “bacanais” (deus Baco) – as bacantes, que eram as sacerdotisas que celebravam os mistérios do culto de Dionísio, invadiam as ruas dançando e soltando gritos estridentes e atraindo adeptos, causando tumultos, até a sua proibição, pelo Senado romano. Permaneceram as “saturnálias”, festas em homenagem à Saturno, deus que ensinou a agricultura aos italianos, ocasião em que os escravos tomavam o lugar dos senhores e saiam às ruas cantando e dançando.
            Quando o cristianismo começou já encontraram as festas no uso dos povos. Em 590 d.C. a Igreja resolveu oficializar o carnaval e transformá-lo, impondo um tom sério como forma de combater o riso e o aspecto cômico e livre consagrado pela tradição. O Carnaval sempre foi a vida em festa, baseada em seus aspectos de alegria, na liberdade de expressão e na parte cômica, em contrapartida aos cultos e mitos sérios.
            Nas Europa ele foi se modificando e surgiu o “entrudo”, forma grosseira, primitiva e violenta de brincar até a época da industrialização, quando então o carnaval ganha identidade própria e, após o término da II Guerra Mundial, com as mudanças de ordem filosófica, moral e estética, bem como o advento da tecnologia e, principalmente, no século XX da televisão, ele se reveste de uma nova fantasia, privilegiando o aspecto visual.
            Em alguns lugares do mundo o carnaval enfraquece por um tempo e depois volta a ter brilho. Porém, atualmente o epicentro está no Brasil, com seus desfiles de Escolas de Samba no Rio de Janeiro de São Paulo, transmitidos para todo o mundo, bem como os carnavais de rua em Salvador e Recife.
            Simbolicamente, o carnaval é a ruptura das inibições, das repressões e dos recalques. São “as forças obscuras que emergem do inconsciente, pois é a liberação provocada pela embriaguez dos que bebem como da embriaguez da loucura que se apodera das multidões arrastadas pelo fascínio da dança e da música” (Defradas).
            As máscaras, o canto, a dança e a liberdade de comunicação entre as pessoas, que é refreada durante todo o ano pelas convenções sociais, caracterizam o carnaval atual, que é o período de festas e divertimento antes da Quaresma.
Rejane Woltz Barbisan
Astróloga
Bacharel em Direito
Ref. Bibliográfica:
BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega Vol. II, Vozes, 2004
LESKY, Albin. A tragédia grega. Ed. Perspectiva. 1971
JULIEN, Nadia. Minidicionário compacto de mitologia. Ed. Riddel. 1992