terça-feira, maio 4

A Lei da Polaridade (3)

O MÉTODO DO QUESTIONAMENTO

        Todos os fenômenos tem forma e conteúdo, consistem em duas partes e num todo que é maior do que a soma das partes. Todo fenômeno é determinado pelo passado e pelo futuro. A doença não constitui exceção à regra. Por trás de todo sintoma existe uma finalidade, um conteúdo, que apenas se utiliza das possibilidades disponíveis no momento para se tornar visível em forma palpável. Por conseguinte, uma doença pode ter a causa que preferir.
        Vamos tratar das causas finais da doença, com uma visão unilateral. Existem os processos materiais pesquisados e descritos pela medicina, mas será que esses processos são a única causa das doenças?
        É indiferente se a causa de determinado distúrbio é, por um lado, uma determinada bactéria, ou, por outro, uma mãe malvada. O ser humano possui uma essência independente do tempo que, de alguma maneira, precisa concretizar e tornar consciente no transcurso de sua existência pessoal. Esse padrão interior transcendente é denominado o “si-mesmo”. O caminho da vida dos homens é o caminho rumo a esse “si-mesmo”, que é um símbolo da totalidade. O ser humano precisa de “tempo” para encontrar esta totalidade, que, não obstante, existe desde o início. Chamamos tal caminho de “evolução”. A evolução é a compreensão consciente de um padrão sempre presente (atemporal). Ao longo da trilha rumo ao autoconhecimento, entretanto, surgem erros e dificuldades constantes, ou não podemos ou não queremos ver certas partes isoladas do padrão. Tais aspectos de nós mesmos já denominamos de sombra.
        A busca das causas no passado nos desvia da informação real, visto que abdicamos da responsabilidade que nos cabe, e projetamos a culpa numa causa hipotética.
        Na interpretação dos sintomas, algumas regras são necessárias, pois a tendência humana é justificar, transformar ou se iludir quanto as possibilidades de transformar as doenças.

        1ª Regra:  Ignore todas as relações causais aparentes no nível funcional quando for interpretar sintomas. Estas sempre serão encontradas e ninguém nega sua existência. Mas não servem de substituto para a interpretação. Interpretamos os sintomas apenas em sua manifestação qualitativa e subjetiva. Para tanto, é irrelevante quais cadeias causais, ou quaisquer outras. Para reconhecer os conteúdos é importante que haja apenas uma coisa: sua existência – e não o motivo de sua existência.

        A sequência temporal em que os sintomas aparecem é bastante interessante e reveladora. Todos os acontecimentos sincrônicos que provocam o aparecimento de um sintoma formam o contexto sintomático e devem ser levados em conta.
        Não se deve considerar unicamente os fatos exteriores, mas sobretudo os processos interiores.

        2ª Regra: Analise com precisão em que momento surgiu o sintoma. Tente lembrar-se de sua situação na vida, de seus pensamentos, fantasias e sonhos dos acontecimentos e das notícias que recebeu, pois isto tudo contexto naturalmente o sintoma.

        Agora chegamos à técnica fundamental da interpretação, que não é fácil de apresentar. Em primeiro lugar é necessário desenvolver um relacionamento íntimo com a linguagem e aprender a ouvir, com consciência, o que as pessoas dizem. A língua é um meio grandioso de ajuda para perceber as interligações profundas e invisíveis, já que possui uma sabedoria própria que apenas se revela a quem sabe ouvir. As pessoas modernas demonstram uma atitude displicente e bastante volúvel para com a língua e assim perdem o acesso ao verdadeiro sentido dos conceitos. Como também a língua participa da polaridade, ela sempre é ambivalente, bilateral e sujeita a duplo sentido. Quase todos os conceitos vibram em numerosos níveis ao mesmo tempo. Sendo assim, temos de reaprender a conhecer cada palavra, em todos os seus níveis simultâneos.
        Qualquer pessoa que tenha aprendido a ouvir a ambivalência psicossomática das palavras, logo se surpreenderá ao descobrir que todos os que estão doentes em geral descrevem, junto com os sintomas físicos da doença, também uma parte de seu problema psíquico: um vê mal, a ponto de não distinguir mais os objetos; o outro está resfriado e “com as coisas pelo nariz”; outro ainda não consegue curvar-se porque está rígido demais; outro não pode engolir, e outro sofre de incontinência; outro não pode ouvir, e existe aquele que gostaria de arrancar a pele de tanto coçar. Nesses casos não há muito o que interpretar; podemos apenas ouvir, acenar com a cabeça e constatar:”A doença torna as pessoas honestas.”
        Além de prestar atenção ao duplo sentido das palavras, também é importante a capacidade para o raciocínio analógico, visto que esta função lingüística se fundamenta na analogia. É por isso que a ninguém ocorreria a idéia de não existir em alguém um órgão quando falamos de um homem sem coração.  Com a expressão “falta de coração! Estamos nos referindo à carência de uma virtude que, em razão de um simbolismo arquetípico, sempre foi associada com o coração, ou seja, estamos falando de um homem impiedoso. O mesmo princípio também é representado pelo Sol e pelo ouro.
        Nem a psique “provoca” os sintomas físicos, nem os processos físicos “provocam” mudanças psicológicas. Contudo, qualquer padrão determinado sempre pode ser visto em ambos os níveis. Todos os conteúdos psicológicos tem suas contrapartidas corporais, e vice-versa. Nesse sentido, por certo tudo é um sintoma. Lábios estreitos ou gostar de andar são tão sintomáticos quanto amígdalas inflamadas. O que diferencia um sintoma do outro é somente a nossa avaliação subjetiva em ambos os casos. Em última instância, são nossas resistência e rejeição que transformam  meros sintomas em sintomas de doenças. O próprio fato de resistirmos revela que eles são “corporificações” de aspectos de nossa sombra, pois ficamos perfeitamente felizes com todos aqueles sintomas que revelam o aspecto consciente de nossa psique. Nós até mesmo os defendemos como expressões de nossa personalidade.
        Só a observação pode nos tornar conscientes. Se houver uma modificação subjetiva espontânea na consciência, tanto melhor! Contudo, a intenção de mudar alguma coisa só consegue provocar o efeito contrário. Quando queremos adormecer depressa, esse é o modo mais seguro de termos dificuldade de adormecer. Se não nos preocuparmos, o sono logo chega.  Nu caso como esse, a ausência de intenção significa o ponto exato entre impedir e desejar impor. Trata-se da paz meridiana, que possibilita o surgimento de algo novo. Nem a insistente perseguição do objetivo, nem a resistência nos aproximam de nossas metas.
        Se, enquanto estivermos interpretando sintomas, nós acharmos que nossa interpretação é maldosa ou até mesmo negativa, essa impressão é um sinal da auto-imagem em que ainda estamos estagnados. Nem palavras, nem coisas, muito menos fatos, podem ser bons ou maus, positivos ou negativos por si mesmos. Uma avaliação não passa do produto das opiniões do observador. Apontamos o fato apenas para fazer com que a pessoa o entenda e aceite. Não diremos, por exemplo, que a agressividade dela desaparece só porque ele se recusa a olhar para ela, assim como observá-la não a torna maior ou pior. Na verdade, durante todo o tempo em que a agressão (ou qualquer outro impulso) se mantém oculta na sombra, ela desaparece de nossa consciência e é essa a principal razão por que se torna tão perigosa.

3ª Regra: Abstraia o acontecimento sintomático formulando-o em termos de um princípio, e transfira esse modelo para o plano psíquico. Muitas vezes, ouvir o modo como as coisas são ditas pode servir de chave para entender o fato de nossa linguagem ser psicossomática.

        4ª Regra: As duas perguntas: “O que o sintoma me impede de fazer?” e “Ao que me obriga esse sintoma?” levam, na maioria das vezes e bem depressa, ao tema central da doença.
Rejane Woltz Barbisan
Terapeuta Holística