sexta-feira, fevereiro 27

CONTEMPLAÇÃO


Tudo que peço é que você fixe o olhar por alguns instantes, com toda a atenção requerida, numa coisa simples, concreta, externa. O objeto desta contemplação pode ser uma coisa que o agrade: uma pintura, uma estátua, uma árvore, a encosta de uma colina, uma planta que brota, um curso d’água, penas coisas vivas. Não é necessário ir, com Kant, a céus estrelados. “Uma coisa pequenina, não maior que uma avelã” poderá bastar, como aconteceu com Lady Julian, há séculos. Lembre-se de que se trata de uma experiência prática e na de uma meditação panteísta.
Olhe para esta coisa que você escolheu. Rejeite, com muita vontade mas tranquiamente, as mensagens que inúmeros outros aspectos do mundo lhe enviam e concentre toda sua atenção nesse único ato de contemplação amorosa, de maneira a excluir do seu campo de consciência todos os outros objetos.
Não pense, mas aja de modo a que toda sua personalidade penda para essa coisa: deixe sua alma entrar nos seus olhos. Quase instanteamente, esse novo método de percepção fará aparecer qualidades insuspeitadas no mundo externo. Você primeiro perceberá à sua volta um estranho silêncio, cada vez mais profundo, e a diminuição da atividade de sua mente febril. Em seguida, tomará consciência de que a coisa que você observa adquire mais significado, de que sua existência se intensifica. Enquanto se debruça sobre ela, com toda sua consciência, você receberá em resposta um fluxo que virá ao seu. É como se a barreira entre a vida dela e a sua, entre o sujeito e o objeto, houvesse desaparecido. Você se fundiu com ela num ato de comunhão verdadeiro; conhece agora o segredo de seu ser, profundamente e de modo inesquecível, e, não obstante, de uma forma que você jamais poderá exprimir.

(Excerto do livro “Misticismo”, publicado pela AMORC-GLP)

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